segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Um cão



Um cão me surge a porta em plena noite de primeiro de janeiro de 2012.
Um cão.. um belo e enorme cão caramelo, com seu pelo brilhante e seu rabo a abanar o vento.

O olhar dele de teimosia e de mistério, passava de curiosidade a travessura conforme corria do lado de fora do meu portão.
Ficamos ali o admirando e pensando onde diabos estava o dono daquele cachorro tão bonito e tão bem tratado. Será que fugiu do barulho dos fogos de artíficio? Será que foi largado naquele lugar?
Será que era agressivo? Será que dá pra ficar?

No meio daquelas elocubrações todas, olhavamos absortos aquele pitbull que contrastava com a calmaria daquela rua pacata da cidade que grita.
Ele nos olhando de volta, com uma cara de abandono, de solidão, de medo, de tristeza.
E de certo pensando também sobre nós humanos, trancados do lado de dentro de casa, sem dar-lhe a devida atenção.

Não resistimos e esticamos nossos dedos por entre as grades para tocar os seus pêlos.
No primeiro carinho, ele deitou-se de barriga pra cima, como num sinal de total submissão.

Abrimos nosso portão devagar e esperando ele se aproximar deixamos que ficasse com o corpo embaixo de nossas mãos afim de acariciar-lhe novamente.
Os minutos iam passando e nós ali, sem sabermos o que fazer com aquele enorme espécime.

Aos poucos as pessoas iam chegando, opinando, tocando, deixando-se imaginar na história daquele cão perdido..ou fugido.
Ajuntaram-se para ver e admirá-lo em toda sua força e ferocidade.

Era como se estivessemos na frente de um leão. 
Deixavamos ele ir e vir e circular entre nossas pernas, sempre alertas para onde mirava sua boca cheia de dentes.

O meu medo se confundia com a admiração. Era como se nadasse com tubarões, como se a qualquer momento ele fosse dar um NHAC! e comer um pedaço de alguém. 


Oferecemos água e ele sugou ferozmente o quanto pode.
Não quis comer, só queria brincar com aqueles humanos medrosos...


No fim da noite, todos voltaram para dentro de suas casas e da nossa janela, ficamos olhando aquele lindo cão nos acompanhar com os olhos.
Como se perguntasse porque se encontrava naquela situação. Ou como se dissessem: "Fiquem comigo, humanos.."

E deixando ele lá na porta, a nos olhar sorrateiros, me virei e fui dormir.
Fiquei pensando nas aventuras que ele poderia ter na rua, nos amigos que poderia fazer, nos gatos que poderia caçar.
O mundo lá fora de casa, aonde as grades não lhe impediriam de correr e pular, onde as pessoas estão dormindo e a noite guarda seus mistérios, lá...onde os cães são apenas cães de verdade.



Ouvindo_Somewhere Only We Know_Keane

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