quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Escolha



 
A questão era escolher.
Escolher por escolher simplesmente, tomar uma atitude, decidir por um dos lados do muro.
E ela, que havia recusado aquilo a vida toda, perdia completamente o controle. Já não sabia mais o que era dela, nem mesmo sabia quem era ela depois daquele triste dia.
Os domingos tinham perdido sua graça desde então, assim como todo o resto da semana. Segundas intermináveis, terças incontroláveis e quartas meia boca invadiam-lhe em seus pensamentos distantes sobre as escolhas que nunca havia feito.

Certo é que, ela tinha escolhido não escolher, e mesmo aí, havia esperança, ela pensava.
Chegava a achar aquilo um tanto chato, já que se gabava internamente por ter se poupado de grandes decisões. Sentia-se confortável sobre a situação e não via motivo em modificar-se até que aquilo tudo aconteceu.

O seu mundo protegido pela sua ausência momentânea, desmoronava diante dela de maneira cruel, e ela sequer sabia o que poderia fazer. Afinal, fazer é algo que vem logo em seguida a escolher.
Palavras distantes no vocabulário meio monossilábico que adotara agora, enquanto assistia a cena. Palavras que perderam o sopro de vento que ainda restava dentro de sua garganta.
Ela, complacente, aceitou chorando seu destino, escolhendo não escolher como sempre, preferiu enfiar-se numa dessas de auto piedade e culpa, engolindo o choro e a raiva, e as dúvidas e ela mesma numa proteção exagerada, sabe-se lá do que.

Já não existia ela, era só uma figurante interpretando seu papel. Seu papel conhecido de mulherzinha, enquanto dentro dela montanhas russas gigantes se esticavam, um coração batia acelerado e medos se transformavam em coragem, num lugar onde ela poderia ser quem ela realmente era.
E lá nesse lugar, no fundo do seu coração ela se deixou ficar.

E enquanto observava tudo ruir, como que numa explosão gigantesca, algo dentro da mulher se mexeu. Ela não soube se era ela, ou se apenas uma movimento involuntário como que num espasmo d’alma, e então ela se viu.
Viu-se lá dentro trancada, ensimesmada.
Avistou a sua versão original, tão triste e desencantada que se perdeu em seu olhar por algum tempo. Olhou-a com atenção e enquanto olhava, as coisas iam mudando de lugar, ficando verdes, amarelas, rosadas, mistas, as grades que a protegiam iam se transformando em cordas, depois em laços delicados e finalmente em fitilhos coloridos.

Ela estava assumindo seu papel de novo.
Resgatando dentro dela mesmo a alegria que havia perdido, recuperando sua força e sua coragem, tomando sua vida de novo pela mão e escolhendo.
Escolhendo viver a vida, escolhendo escolher o que ela queria, escolhendo dizer ao mundo a que veio.

E escolhendo, firmou-se.
Estava transformada a questão.
Seu mundo já sabia quem ela era agora.
Tudo isso, enquanto seu mundo desabava. Tudo isso enquanto tudo teimava em ser não.
Ela escolheu resgatar-se.


Ouvindo_Old Folks (New Year)_Rosie and Me

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